segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Conto sem nome ll

Na realidade, esse conto seria um dos contos que Olívia escrevia para o tal jornal. Como esse conto já estava digitado e guardado na memória do meu celular, resolvi postá-lo para poder, enfim, apagá-lo de lá.
Vamos ver no que dá.


Numa tarde de um sábado qualquer de julho, Marieta senta-se numa cadeira de madeira trabalhada na sua cafeteria favorita. O sol quase ausente e o frio seco fazem parte do enredo do inverno interiorano. Marieta gosta desse lugar porque pode avistar as pessoas passando com pressa, os carros escassos, as árvores dançando de um lado para o outro e Francisco, que quase sempre passa por ali. Quando não o vê, as outras coisas perdem o sentido.

Marieta é uma das poucas mulheres que ficam elegantes quando seguram um cigarro entre os dedos das mãos delicadas. Os funcionários a conhecem e logo trazem o expresso acompanhado de água com gás e sequilhos. Ela devaneia enquanto degusta lentamente o café. Teria ela coragem para dizer a Francisco o quanto e como o desejava? Claro que não, mas deveria. Quando menos esperava, ele acena. Ela retribui. Geralmente as coisas terminam por aí, mas hoje ele a surpreende e vai até a mesa. Pergunta como está a família e senta-se à mesa. Ela diz que está tudo bem, pergunta como ele está e se arrumou uma namorada. Ele está bem e solteiro, como de costume.

Em sua última conversa com ele, sentiu uma certa reciprocidade afetiva, o que lhe aguçou ainda mais a vontade de experimentar aquilo que tanto a atormentava por tantos anos. Passara dias e noites pensando nas raras e doces palavras de Francisco, que costumava ser seco ou espalhafatoso demais. A conversa começa a ficar quente enquanto o café esfria. Ele segura suas mãos frias e pergunta o que ela faria se houvesse uma chance de ficarem juntos. Com dor no peito, ela diz que nada pode fazer, já que é casada. Deixa claro que não lhe falta desejo, mas tinha princípios. Ele sorri. Ela tenta retomar o ar que sumira do peito. Conversam alguma coisa sem importância e, quando estão saindo, Francisco segura-lhe a mão e diz que achou uma boa resposta, mas queria fazer-lhe uma proposta. "Se a tomasse em meus braços e fingíssemos que estamos naquele passado, isso não faria de ti uma adultera, faria?". Ela pensa, mas só um pouco que é pra razão não interferir e sorri.

Quando percebe, estão na casa dele, beijando-se ardentemente. Francisco acaricia-lhe o rosto, o colo, os seios, as pernas escondidas pelo vestido. Despe-a lentamente e a acaricia novamente, desta vez, com a ponta da lingua explorando todas as curvas de seu corpo. Marieta empurra com os pés as cadeiras que compõem a mesa da cozinha e ali se amam, sem tempo de chegar ao quarto.

Quando retoma a consciência novamente, olha para o relógio e começa a se arrumar. Despede-se rapidamente e, na volta, passa no colégio para buscar sua filha, Luana. Vai para sua casa, beija Fernando e vai banhar-se, para lavar o corpo e a alma.

Um comentário:

G.G. disse...

esse negocio de banho renovar e lavar os pecados deveria estar na biblia.