terça-feira, 3 de junho de 2008

Alucinações

Olha, eu sei que não está certo, mas vou apelar e postar alguns textos dos meus falecidos blogs.
Estou meio sem tempo e sem cabeça para criar novos textos, mas acho triste ver esse blog desatualizado.

O post de hoje é, na realidade, dos dias 18 e 20 de dezembro de 2007. Eu tinha dividido esse conto em duas partes, mas hoje coloco-o inteiro.


Fato é que eu não sabia exatamente onde eu estava. Não sei se por conta do que eu bebi ou do que eu fumei. Ela parece uma miragem. Sei que senti as mãos dela passando levemente em meu rosto e dizendo que estava tudo bem. Me abraçou de forma tão carinhosa que eu podia ficar ali, abraçando-a para sempre. Me sinto um pouco constrangido falando mas, por alguns segundos, senti que aquilo era o mais nobre de todos os sentimentos e era recíproco.


Fomos parar num lugar que não sei direito onde é, mas havia algumas pessoas conhecidas e um cheiro agradável pairava no ar. Sinto que já estive ali algumas vezes mas não sei se estava sóbrio. Aliás, não sei se hoje estou sóbrio.


Ninguém podia saber das minhas intenções, mesmo porque, ela já é comprometida, mas queria levá-la para um outro lugar onde eu pudesse contemplá-la sem ser punido.


"No fundo do recinto há um jardim" lembrei-me sem saber como, mas sabia o porquê. Convidei-a para ver os cogumelos que nasciam por lá e, não sei se por ingenuidade ou por segundas intenções, ela foi.

No jardim quase não ouvia-se a música e as conversas. Parecíamos estar num mundo paralelo. Ela, inclusive, mencionou ter visto um coelho branco atrás da árvore mas eu não conseguia tirar meus olhos dela.

Naquela escuridão, ela brilhava feito vaga-lume e suas expressões me lembravam as de uma princesa.


Agora ela me olha sorrindo e não sei o que fazer. Por alguns segundos me perco num sonho que há muito, vez ou outra, aparece em minha cabeça. Sinto um cheiro de cor-de-rosa que o vento parece trazer de longe e, de repente, ela me beija com toda a doçura que eu nunca pude imaginar existir. Ela tem o corpo todo macio e, como o cheiro, levemente cor de rosa. Vestida de púrpura, ela desliza sua mão e me empurra. Acordo.


Ela ainda está ali e me pergunta o motivo do meu sorriso. Antes que eu pudesse pensar numa boa resposta, ela me cala com seus lábios. Não sei se estou sonhando novamente mas, dessa vez, parece ser real. Sinto meu coração batendo mais forte enquanto minhas pernas ficam mais fracas. Pode parecer estranho um cara como eu dizendo essas coisas, mas me senti no paraíso. Quando ela se afasta, tento me aproximar. Ela se curva e começa a falar sobre cogumelos e suas diversidades. Cogumelos comestíveis, cogumelos tóxicos, cogumelos alucinógenos... Desse último ela falou com todo carinho. O quanto eles são importantes em rituais de diversos povos em todo o mundo. Ela parece tão certa de si que quase me esqueço que ela se afastou sem mais, nem menos.


Ouço algumas vozes se aproximando e são seus amigos. A luz do celular dela iluminava os cogumelos do jardim que, segundo ela, são os cogumelos alucinógenos mais conhecidos, chamados Psilocybe cubensis.

Ficamos um tempo conversando sobre isso até que ela disse que precisava ir embora. Eu não sabia o que fazer, não queria que ela me deixasse sem sequer explicar-se. E, enquanto eu pensava em alguma forma de pedir que ela ficasse, ela me pediu para que a levasse pra casa.


Antes de falar qualquer coisa, dei as chaves do carro para que ela pudesse ir dirigindo, afinal, eu mal sabia se estava nesse mundo. Nos despedimos de todos e fomos embora.


“Para onde vamos?” ela perguntou. De fato é uma boa pergunta quando precisamos ir para algum lugar, mas eu não sabia. Não sabia se ela queria ir para casa dela, ou para a minha, ou para outro lugar. Fiquei com medo de convidá-la para ir em minha casa e ela pensar que quero algo a mais. Apesar de querer, não é alguma coisa que precise acontecer necessariamente, não é uma prioridade. As coisas devem sair do jeito que ela quiser. Às vezes demoro tanto para responder suas perguntas e só percebo isso quando ela pergunta se estou bem. “Você está bem?”.


“Sim, estou. Vamos pra minha casa?”


Ela não responde como faz na maioria das vezes. Às vezes fico imaginando se ela fica pensando em coisas absurdas como eu. Mas nunca a interrompo, deve ser o momento divino dela com ela mesma e seria muita audácia, de minha parte, destruir um momento como esse. Queria que todas as noites fossem parecidas com essa. Só de pensar que tenho apenas essa noite para ficar ao lado dela, entro em pânico.


Quando me recupero dos meus devaneios, estou em frente à minha casa. A última vez que ela veio aqui, ficamos conversando coisas banais, relembrando os lugares que íamos mas não nos conhecíamos. Se eu pudesse prever o futuro, teria falado com ela daquela primeira vez que a vi, ainda uma menina, calçando um par de all stars e pulando enquanto a música rolava.


Abro os olhos e estou no meu quarto. Sinto aquele cheiro de cor-de-rosa e a procuro. Ela não está em nenhum dos cômodos da casa. Sinto-me perdido em relação ao tempo. Acredito, agora, que tudo não passou de mais um dos meus sonhos. Volto para o quarto e tento retomá-lo de onde parei, em vão. Ajeito meu travesseiro e, embaixo dele, uma carta.



Brindemos, hoje, às aventuras mais loucas, aos bares mais lúdicos e às conversas banais. Brindemos porque há motivos para comemorar, para celebrar o que os simples mortais chamam de 'sonho realizado'.


Façamos dessa nova etapa da vida mais que uma história a ser contada quando estivermos velhos, mas um momento para se orgulhar do que somos e fizemos.


Que suas noites de sono sejam as melhores noites de sono e os dias sejam tomados de um verde elétrico incandescente, banhado pela luz brilhante do sol. E, se isso não é divino, paixão, então não sei o que mais é.


Tenha uma boa vida.



De quem deseja-lhe as maiores virtudes e plena sabedoria.


Cor-de-rosa.”

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