terça-feira, 29 de julho de 2008

Olívia não brilha - Capítulo VI

Parte VI


Olívia é conservadora, cheia de princípios. Nunca faz nada que saia dos conformes, exceto beber durante o dia. É o máximo da rebeldia de Olívia. Nunca traiu, mentiu sobre coisas graves, roubou ou matou. Tinha medo de sentir-se encurralada como quando tinha 16 anos e fumou maconha pela primeira vez. Quando chegou em casa, nada lhe tirava da cabeça que ainda exalava o cheiro da erva, mesmo depois de se perfumar, comer e ouvir a amiga falando mais de cinquenta vezes que estava tudo bem. Ao encontrar com seus pais, Olívia sentia que estava escrito na face o crime que havia cometido e se entregou, antes mesmo de seus pais fazerem qualquer tipo de pergunta. Enfim, Olívia fazia tudo certo, nada errado. Contudo, em suas histórias, fazia questão de libertar o lado transgressor que ela mesmo desconhecia. Seus personagens praticavam crimes hediondos, faltava-lhes caráter, escrúpulos que ela compensava com o amor, o romance. No fundo sabia que era a forma segura de cometer delitos, sem fazer mal a ninguém, sem mentir, sem se sentir incriminada. Adormeceu.

No dia seguinte acordou com a campainha. Era Otávio. Olívia vai até a varanda e sorri sem vontade. Odeia que a acordem assim, de repente. "Trouxe um café especial pra você" gritou ele lá de baixo. Ela faz um sinal para que ele espere um pouco. Vai até o banheiro, lava o rosto e desce. Caminha até o portão numa garoa gelada, sente frio. Abre o portão e o cumprimenta com um aperto de mãos. "Ainda estamos nessa fase?" pergunta ele que dá-lhe, de surpresa, um beijo na bocheca. "Já nos apresentamos ontem, hoje já somos amigos. Superamos a fase do aperto frígido de mãos". Olívia fica meio atrapalhada, ainda está sonolenta, mas sorri porque sente que deve fazê-lo.

Sem mais, Otávio convida-se para preparar-lhe o café mais tarde, já que agora precisava ir trabalhar. "Venho às 20:00 horas, combinado?"

Um comentário:

G.G. disse...

a "deselegancia discreta" da olivia começa a ficar bonitinha...

e o primeiro paragrafo eh profundo.