Parte II
Se apresentou: “Olá, sou Olívia. Obrigada pela cesta”. Olívia já o vira várias vezes pela janela do seu quarto. Vê sempre chegando com uma mulher muito bonita, mas que vai embora no meio da madrugada. Olívia não é de se importar com a vida dos outros, mas ela tem passado tempo demais na varanda e, como não é cega, testemunhou esses acontecimentos sem relevância.
Ele se ofereceu para ajudá-la a levar as compras e não esperou uma resposta. Já foi ajeitando as sacolas nas mãos e a acompanhou até em casa. Olívia costuma ser tão gentil que chega a ser incômodo. Ela mesma não sabia se essa gentileza toda era sincera e já tentara ser diferente, mas acabou deixando pra lá, como costuma fazer sempre. Acabou chegando a conclusão de que essa é ela, uma das poucas certezas que tem a respeito de si. Deixou que ele levasse as sacolas mesmo detestando que façam coisas assim por ela.
Ela mudou-se para esse bairro gostoso tem poucos meses, desde que recebeu um aumento em seu trabalho. Escreve uma coluna semanal sobre romance no jornal da cidade, mas não bota fé em nenhuma das histórias. Olívia acha que as pessoas se encantam com suas histórias porque são inatingíveis, improváveis que aconteçam. Mas o faz porque quer se dar ao luxo de ter sapatos. É amante de sapatos. E chás importados. E revistas de moda. Ao contrário do que todos pensam de alguém solitária, como Olívia, ela faz questão de estar sempre bem vestida, com unhas feitas, as madeixas mudam constantemente de cor e corte e os sapatos, “ah, os sapatos” diria ela suspirando. Sempre impecáveis. Ela costuma dizer que se arruma pra ela, que pouco importa se alguém a verá ou não, se alguém gostará ou não do que ela está vestindo. Deve ser mais ou menos por aí mesmo. Olívia vai ao teatro, ao cinema e, de vez em quando, sai com os amigos de longa data que moram em outra cidade, mas que a visitam sempre que podem. Mas não muito. Desde que mudou-se para aquele bairro, ela tem saído ainda menos. Vai ao mercado e à locadora que são muito próximos de sua casa.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Olívia não brilha - Capítulo II
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Um comentário:
Também queria ter um monte de sapatos...
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