terça-feira, 30 de setembro de 2008

Depressão de merda

Penso no quão eficaz seria minha queda aqui do 14º andar. Olho para baixo todas as noites na esperança de, um dia, ter o mínimo de coragem para acabar com toda essa tristeza, ou com essa pouca felicidade. Se a vista não fosse tão maravilhosamente linda e o vento incrivelmente gostoso, acho que eu teria mais motivos para ter pulado logo, de uma vez. Penso também na Kiki, aquela gata pulguenta que ninguém quer, que faz questão de passar em baixo das minhas mãos quando estou jogada no sofá e ronrona como se quisesse dizer alguma coisa. Se eu tivesse com quem deixá-la, alguém de confiança, seria mais fácil pular. Se bem que, se me garantissem que do lado de lá eu poderia continuar fumando meu baseado semanal, eu nem pensava duas vezes. O único problema em deixar esse mundo é não poder mais assistir filmes comendo pipoca. Não sei quem inventou isso, mas é uma combinação perfeita. Assim como vodca com energético, conhaque e licor de cacau, café e cigarro, preto e branco, arroz com feijão... Me bateu uma fome, acho que vou jantar.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Conto sem nome ll

Na realidade, esse conto seria um dos contos que Olívia escrevia para o tal jornal. Como esse conto já estava digitado e guardado na memória do meu celular, resolvi postá-lo para poder, enfim, apagá-lo de lá.
Vamos ver no que dá.


Numa tarde de um sábado qualquer de julho, Marieta senta-se numa cadeira de madeira trabalhada na sua cafeteria favorita. O sol quase ausente e o frio seco fazem parte do enredo do inverno interiorano. Marieta gosta desse lugar porque pode avistar as pessoas passando com pressa, os carros escassos, as árvores dançando de um lado para o outro e Francisco, que quase sempre passa por ali. Quando não o vê, as outras coisas perdem o sentido.

Marieta é uma das poucas mulheres que ficam elegantes quando seguram um cigarro entre os dedos das mãos delicadas. Os funcionários a conhecem e logo trazem o expresso acompanhado de água com gás e sequilhos. Ela devaneia enquanto degusta lentamente o café. Teria ela coragem para dizer a Francisco o quanto e como o desejava? Claro que não, mas deveria. Quando menos esperava, ele acena. Ela retribui. Geralmente as coisas terminam por aí, mas hoje ele a surpreende e vai até a mesa. Pergunta como está a família e senta-se à mesa. Ela diz que está tudo bem, pergunta como ele está e se arrumou uma namorada. Ele está bem e solteiro, como de costume.

Em sua última conversa com ele, sentiu uma certa reciprocidade afetiva, o que lhe aguçou ainda mais a vontade de experimentar aquilo que tanto a atormentava por tantos anos. Passara dias e noites pensando nas raras e doces palavras de Francisco, que costumava ser seco ou espalhafatoso demais. A conversa começa a ficar quente enquanto o café esfria. Ele segura suas mãos frias e pergunta o que ela faria se houvesse uma chance de ficarem juntos. Com dor no peito, ela diz que nada pode fazer, já que é casada. Deixa claro que não lhe falta desejo, mas tinha princípios. Ele sorri. Ela tenta retomar o ar que sumira do peito. Conversam alguma coisa sem importância e, quando estão saindo, Francisco segura-lhe a mão e diz que achou uma boa resposta, mas queria fazer-lhe uma proposta. "Se a tomasse em meus braços e fingíssemos que estamos naquele passado, isso não faria de ti uma adultera, faria?". Ela pensa, mas só um pouco que é pra razão não interferir e sorri.

Quando percebe, estão na casa dele, beijando-se ardentemente. Francisco acaricia-lhe o rosto, o colo, os seios, as pernas escondidas pelo vestido. Despe-a lentamente e a acaricia novamente, desta vez, com a ponta da lingua explorando todas as curvas de seu corpo. Marieta empurra com os pés as cadeiras que compõem a mesa da cozinha e ali se amam, sem tempo de chegar ao quarto.

Quando retoma a consciência novamente, olha para o relógio e começa a se arrumar. Despede-se rapidamente e, na volta, passa no colégio para buscar sua filha, Luana. Vai para sua casa, beija Fernando e vai banhar-se, para lavar o corpo e a alma.

Conto sem nome

Como sempre, o assunto acabou antes de nos acostumarmos com a presença do outro. Eu sei que é difícil estabelecer uma conversa com alguém que raramente vemos. Mas podíamos, ao menos, fazer um esforço. Mas não, fazemos questão de ficarmos numa posição tão constrangedora que dá vontade de sair correndo. Mas a etiqueta nos impede e ficamos ali, observando as pessoas normais passando, conversando. Abro a bolsa, pego um cigarro e encontro uma ótima desculpa para sair dali. Enquanto subo as escadas do casarão, ouço ele chamar meu nome. Hesito em olhar, mas o casal que desce as escadas fazem o não-favor de me avisar. Olho para trás e ele aperta o passo e vai comigo até a varanda. Ofereço um cigarro e ele aceita. Quando vou acendê-lo, ele toma meu cigarro e me beija. Beija lento e quente, passa as mãos em meus cabelos e depois por todo o corpo. Não sei que diabos estou fazendo, mas não há tempo para pensar nisso agora. Penso apenas em como sairemos dali e iremos para um lugar mais reservado, mas sem concluir um pensamento sequer. Quando percebo, estamos nos consumindo ali mesmo, na varanda, no parapeito. É estranho como você sente que alguma coisa vai dar errado. Abro os olhos e ali está ela, sua esposa, estática, prestes a cair em prantos. Fico sem voz, sem forças para fazer com que ele veja o que eu estou vendo. Não era preciso, ele deve ter sentido o mesmo que eu e olhou para trás. Não havia nada a ser dito ou feito. Pego minha bolsa, o cigarro que estava no chão e vou embora.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Conversa de botas batidas

- Mas, você tem certeza de que está tudo bem?
- Tenho, sim. Por que?
- Estou te achando um pouco triste. Sei lá. Há uns tempos atrás você parecia mais feliz. Hoje, olho pra você, e só vejo tristeza.
- Impressão sua. Nunca estive melhor.
- Esteve, sim. Você pode não estar triste, mas, melhor, já esteve. Nem senso de humor você tem mais.
- ...
- Tá vendo. A única coisa que você tem hoje é uma armadura, dessas bem pesadas, escondendo alguma coisa que não sei o que. E nem o por quê. Acho estranho alguém não querer ser feliz.
- Mas eu sou feliz.
- É nada. Você é, no máximo, alegre. Alegria quase forçada para esconder esse mar de tristeza que toma conta dos seus olhos. Felicidade passa longe de você. Mas, enfim, cada um sabe o que faz com sua vida.
- É...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Pensamentos Aleatórios

Nunca comentei sobre minhas inseguranças com ninguém porque sou inseguro. Costumo achar que minhas fraquezas serão usadas contra mim a qualquer momento. Por conta disso, nunca falo nada além do necessário. Se insistem, desvio a conversa. Nestes dias últimos, uma das minhas crias têm me atormentado, quase que frequentemente, impossibilitando-me de escrever qualquer coisa. Não conseguia sequer fazer a lista de compras do mês. Estava receoso até para assinar a folha do talão de cheques. Uma vez me disseram que era necessário ler, ler muito. Só assim eu saberia escrever direito. Não o fiz, já não gostava muito da minha caligrafia mesmo. E escrever me deixava sonolenta, assim como ler. De castigo, Deus me enviou os devaneios que permeiam meu universo. Tudo é tão fascinante, que tenho vontade de contar pra todo mundo o que eu vejo, sinto. Mas não sou de conversar muito, como já disse. Digo o que é necessário porque, quando criança, minha mãe disse que Deus nos deu uma boca e dois ouvidos para que ouvíssemos mais e falássemos menos. Restou-me escrever. E então percebi que não sabia fazê-lo de forma tão encantadora como muitos o fazem. Juro que me esforço, mas nada sai. Só uma meia dúzia de palavrinhas medíocres e lágrimas sem fim. Aí vem a dor na cabeça, na consciência, no corpo, na alma. Queria entender de onde resgato essas criaturas de tempos em tempos. E, vasculhando lá no fundo da minha memória curta, lembro de meu filho dizendo: "...E o pai do 'fulano' é tão inteligente, fico encabulado quando precisamos conversar. E os textos dele, então? Escreve feito poeta." É... Filhos. Se eles soubessem o desgosto que eles nos dão também.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Olívia não brilha MESMO

Cansei desse conto imbecil.

Blog esquecido por tempo indeterminado.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Poesia de rodapé

Já não vejo mais o brilho de seus olhos,
nem aquele sorriso tímido,
nem sinto o calor evolar-se de seus abraços,
ou vida em suas palavras.

Talvez ela tenha cansado
de me esperar,
de me dizer coisas
e ter atenção.

Talvez ela tenha desistido
de me fazer entender
que precisa de muito pouco
pra me amar,
pra ser feliz.
Talvez tenha desistido de mim.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Poesia de rodapé

Quando ela corre em minha direção
com os longos cabelos negros cobrindo-lhe o rosto,
contagio-me com sua alegria sem fim
Como num dia cinzento em que ela me acorda
me enchendo de beijos.
Se contenta com tão pouco,
quem me dera se eu fosse assim.

Quando na rua caminhamos
toda a atenção volta pros olhos dela
Não poderia ser diferente,
já que toda beleza se resume nela.

Quando ela come com sua voraz fome
me faz sentir pena de mim
que há tempos não como assim,
já não lembro mais o nome.

Quando ela dorme a paz que ela sente
quando sonha com seu dia feliz.
Me aperta o peito em saber
que seu sono é leve e que
quando me movo ela acorda
e me agrada
de todas as formas que encontra.

Ela não sabe dos problemas do mundo,
que sorte ela tem
Já que tomo para mim
toda a desgraça das notícias dos jornais.
Sua ignorância é bela e toda ela
faz do meu medíocre dia, um dia mais feliz.

Olívia não brilha - Capítulo VIII

Parte VIII


"Pontual" diz ela enquanto abre o portão. "Não costumo me atrasar quando me comprometo" responde ele. Ela abre o portão, eles se cumprimentam, dessa vez, com um beijo no rosto. Otávio traz vinho e alguns aperitivos e ouve Olívia falando: "Tinha certeza que você era um homem que gosta de vinhos". Fica sem entender, mas não pergunta o por quê. Atravessam o jardim e vão até a cozinha. Olívia pega uma taça, seu copo preferido e seu conhaque. "Fará desfeita com meu vinho?" pergunta Otávio. "Não sou muito fã de vinhos..." responde ela tão baixo que quase não se ouve. "Esse é um vinho especial, tenho certeza que gostará" a interrompe. Mesmo não gostando da idéia, nem do tom superior de Otávio, ela aceita. Pega outra taça, ele a serve. "É, não é de todo o mal" admite ela. "Sabia que você gostaria" diz ele.


Vão até a sala e o silêncio gritante toma conta da casa. Otávio olha-a de forma que a deixa incomodada. "E o que você faz da vida, Otávio?" tenta quebrar o silêncio. Otávio é arquiteto e ao dizer isso, eles desencadeiam uma série de conversas. Falam sobre decoração, sobre jardins, sobre quadros, pintores, poetas e músicos. "Adoro o Chico" se empolga Olívia e fala mais alto que de costume. "Nossa, com esse entusiasmo, você deve gostar muito dele" diz Otávio sorrindo. Ela levanta-se e coloca o vinil para tocar. Perde alguns segundos admirando a música e pergunta: "E tem como não gostar?". Ele concorda enquanto seu celular toca. "É minha namorada", diz. Atende o telefone e vai em direção ao quintal. Olívia deita-se no sofá, cantarola e acende um cigarro. Ele volta e se desculpa pela saída repentina. "Não há problema nenhum."


Quando ele volta, Olívia está deitada no sofá, dormindo com leve sorriso no rosto. Resolve não acordá-la. Deita-se no outro sofá e acaba dormindo também.