quinta-feira, 31 de julho de 2008

Olívia não brilha - Capítulo VII

Parte VII


Olívia sentia-se inspirada para escrever uma nova história. Não escreve tanto assim desde que começou a trabalhar no jornal. E não escrevia porque queria, mas porque precisava entregar todas as histórias no começo do mês. Com o tempo, ganhou a confiança do chefe e como ela mesma revisava os textos, começou a entregá-los, um a um, semanalmente, no sábado de manhã, um dia antes de serem publicados.


Era quinta-feira e ela já tinha dois textos prontos. Decidiu tomar banho e arrumaria a casa assim que ela mesma se sentisse mais limpa. Abriu o chuveiro e deixou a água esquentando. Enquanto despia-se, olhou-se no espelho e viu que não mudara nada desde seus 15 anos. Já estava prestes a fazer 24 e nunca sentiu-se mulher feita. Os olhos eram os mesmos grandes olhos azuis desconfiados, a pele ainda pálida com algumas sardas, os cabelos longos e negros como a primeira vez que os pintou, com 14 anos. Mudava constantemente a coloração das madeixas, mas gostava delas negras. Tinha os mesmos 1,60 metro de altura, pesava os mesmos 50 quilos, calçava os mesmos 35, vestia o mesmo manequim 38. Nada mudou, apesar de tantas mudanças. Demorou no banho, tentava lavar a imagem inocente e assustada que acabara de ver.

Foi para o quarto, vestiu-se com seu vestido de seda azul, sapatilhas peroladas combinando com o casaco que comprou na Argentina e que finalmente poderia usá-lo, maquiou-se, arrumou os cabelos, o quarto, a sala e foi até a cozinha. A campainha toca. São 20:00. "É Otávio" pensa.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Olívia não brilha - Capítulo VI

Parte VI


Olívia é conservadora, cheia de princípios. Nunca faz nada que saia dos conformes, exceto beber durante o dia. É o máximo da rebeldia de Olívia. Nunca traiu, mentiu sobre coisas graves, roubou ou matou. Tinha medo de sentir-se encurralada como quando tinha 16 anos e fumou maconha pela primeira vez. Quando chegou em casa, nada lhe tirava da cabeça que ainda exalava o cheiro da erva, mesmo depois de se perfumar, comer e ouvir a amiga falando mais de cinquenta vezes que estava tudo bem. Ao encontrar com seus pais, Olívia sentia que estava escrito na face o crime que havia cometido e se entregou, antes mesmo de seus pais fazerem qualquer tipo de pergunta. Enfim, Olívia fazia tudo certo, nada errado. Contudo, em suas histórias, fazia questão de libertar o lado transgressor que ela mesmo desconhecia. Seus personagens praticavam crimes hediondos, faltava-lhes caráter, escrúpulos que ela compensava com o amor, o romance. No fundo sabia que era a forma segura de cometer delitos, sem fazer mal a ninguém, sem mentir, sem se sentir incriminada. Adormeceu.

No dia seguinte acordou com a campainha. Era Otávio. Olívia vai até a varanda e sorri sem vontade. Odeia que a acordem assim, de repente. "Trouxe um café especial pra você" gritou ele lá de baixo. Ela faz um sinal para que ele espere um pouco. Vai até o banheiro, lava o rosto e desce. Caminha até o portão numa garoa gelada, sente frio. Abre o portão e o cumprimenta com um aperto de mãos. "Ainda estamos nessa fase?" pergunta ele que dá-lhe, de surpresa, um beijo na bocheca. "Já nos apresentamos ontem, hoje já somos amigos. Superamos a fase do aperto frígido de mãos". Olívia fica meio atrapalhada, ainda está sonolenta, mas sorri porque sente que deve fazê-lo.

Sem mais, Otávio convida-se para preparar-lhe o café mais tarde, já que agora precisava ir trabalhar. "Venho às 20:00 horas, combinado?"

terça-feira, 22 de julho de 2008

Pensamentos Aleatórios

Acalanto

Acorda,
olha ao lado,
ela está cá
porque lá
é longe.
Está perto
e sente, decerto
respirar.
Irrequieta é acalmada
com o toque
das mãos
nos cabelos.
Beija lento
e a língua quente
passeia pelas curvas,
todas elas.
Ainda dormindo
um pouco acordada
ela sorri.
Se entrelaçam
e forte se abraçam
como se o próximo segundo
não fosse chegar.

Olívia não brilha - Capítulo V

Parte V


Olívia aproveita pequenos acontecimentos para escrever seus romances, o acontecimento de hoje certamente se tornaria um deles. Não porque achava que ali tinha algo de romance, mesmo porque ela não via romance em lugar algum, mas porque o café lhe pareceu um marco em sua vida adulta e precisava ser registrado. Senta-se na cadeira de balanço com seu caderno e sua caneta e começa a rascunhar palavras.


“Conhaque”, pensa. Desce as escadas, pega o conhaque e deita-o sobre seu copo preferido. Está frio, ela se enrola num cobertor e vai até o jardim segurando o copo e o cigarro na mesma mão. Pensa em várias coisas, lembra-se de acontecimentos, imagina coisas que poderiam acontecer e logo nasce o romance que será publicado na próxima semana. Deita-se na grama úmida e fria e imagina a história várias vezes. Olívia não sente mais frio, sente um formigamento gostoso no corpo todo e sorri. Levanta-se, toma banho, deita-se em sua cama com computador e digita a história. Lê, relê, arruma e envia para o jornal.


Olívia costuma queixar-se sobre a falta de tempo, mas é uma das poucas coisas que não lhe falta. Só precisa ir até o jornal uma vez por mês, que é quando precisa assinar um documento para receber seu pagamento. Nos outros dias, Olívia não faz nada mais além de inspirar-se.

sábado, 5 de julho de 2008

Só para esclarecer

O conto da Olívia volta só quando der vontade. Já adianto que 12 capítulos estão prontinhos, só aguardando minha vontade de postar.

Semana que vem vou pra Piracicaba e talvez eu atualize o blog de lá, mas não garanto nada.

Sem mais.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Soltando os cachorros



Não consigo esconder ou ignorar minha insatisfação com a Anhembi Morumbi. Desde que descobri que queria fazer moda e que descobri que a Anhembi era uma das pioneiras desse curso no país, sabia que lá era meu lugar. Demorou, mas cheguei, mas, tenho que confessar, a cada semestre aumenta uma decepção com alguma coisa absurda que eles fazem.

Como se já não bastasse a mensalidade aumentar assustadoramente a cada semestre e, nesse mesmo tempo, aparecer um coordenador novo, as normas que a faculdade cria são assustadoramente imbecis. Os professores são pouco profissionais, a central de atendimento ao aluno sempre dá orientações equivocadas fazendo com que façamos mais de uma vez a mesma coisa, o setor de bolsas é impressionantemente incopetente e desorganizado. Desorganizado é a palavra. A universidade toda é assim. Falta administração, falta comprometimento e falta bom senso.

Acho inaceitável uma universidade não ter um telefone onde eu possa ligar para resolver algum problema, ou um site que funcione ou professores que atualizem nossas notas e faltas com frequência. Acho inadmissível uma universidade avaliar os alunos pela presença em sala de aula ao invés de avaliá-los pelo rendimento e pelo que ele poderá proporcionar à própria universidade. Como eles pretendem formar profissionais qualificados se a estrutura é falha?

À Anhembi Morumbi, a "Única Universidade Global do País", como eles tanto se orgulham em dizer, fica uma citação de Jane Goodall que se encaixa perfeitamente com a situação: "Pense globalmente, aja localmente".