segunda-feira, 30 de junho de 2008

Olívia não brilha - Capítulo IV

Parte IV

Acaba se rendendo ao cheiro que toma conta da casa e experimenta o café de Otávio. Acende um cigarro e ele a acompanha. Ele fica em silêncio por alguns segundos esperando que ela opinasse sobre o café. “Tenho que confessar que é o melhor café que tomo desde que minha avó morreu” diz Olívia com um sinceridade que há muito não fazia. Ele sorri. Aproveita essa brecha para fazer perguntas à Olívia. “Mudou-se para esse bairro por que?”. Ela pensa enquanto degusta o café. Aprendeu que para sentir o gosto das coisas precisa mantê-las na boca por um tempo. “Gosto daqui. Desde que mudei para essa cidade procuro por um lugar que se pareça com o lugar que vivi quando era criança. Em um dos meus passeios pela cidade, passei por aqui e me encantei. Não mudei antes porque não recebia o suficiente para alugar uma casa aqui e continuar comprando sapatos. Quando pude fazer os dois, não hesitei”. Acabou, sem querer, aumentando a conversa e o incentivando a perguntar mais. “O que você faz da vida?” perguntou Otávio curioso. “Faço muitas coisas sem importância e poucas com relevância. Escrevo romances para uma coluna no jornal da cidade, vou ao teatro, ao cinema e pretendo escrever um livro”, tenta encerrar por ali a conversa, mas ele quer saber mais. “Romances, adoro romances”. “Claro que adora, todos adoram romances” diz com uma ironia que o deixa desconfortável. “Como assim?” indaga. “As pessoas gostam de romances porque eles narram uma história de impossível acesso” diz Olívia. Ele ri, ela não gosta. “Talvez não aconteçam com você, mas acontece com a maioria das pessoas normais. Por isso elas gostam de romance, porque se identificam...” tenta explicar à Olivia. Ela está para poucas palavras agora, menos do que costuma estar e não fala nada. Acha melhor não destratar uma visita ainda mais depois de ter tomado um café tão bom. “Gosta de animais, Olívia?” tenta mudar a rota do assunto. “Sim” responde monossilaba. “Por que não tem nenhum, então?”. “Não tenho tempo para cuidar de um animal, acho absurdo alguém ter um animal por ter e trabalhar o dia todo, sem dedicar uma parte do tempo para ele” responde baixo e lentamente.

Otávio acha bonito essa calmaria que ela passa. Está tão acostumado com a correria, com pessoas gritando e xingando que se sente num mundo totalmente paralelo ali, ao lado de Olívia. “Tem família ou namorado aqui?” ele pergunta. “Aqui não, minha família mora em outra cidade” responde Olívia deixando no ar a resposta sobre o namorado. Olívia tem um problema grave de achar que as perguntas são feitas com segundas intenções e, quando realmente tem ,ela não sabe como se portar. “E namorado?” pergunta ele sem ligar em parecer inoportuno. “Se não tenho tempo para cuidar de um animal de estimação, como teria tempo para aventuras amorosas?” Olívia sempre responde com uma pergunta quando não sabe o que dizer. Eles se calam, ele enche a xícara de Olívia com mais café. Ela não queria mais, mas não recusou. Ele olha no relógio e diz que precisa ir embora e que tinha sido um prazer conhecê-la. Ela diz que foi recíproco e que espera vê-lo novamente. Acompanha-o até o portão e se despede.

domingo, 29 de junho de 2008

Filmes


Hoje eu estava mudando de canal frenéticamente, procurando por alguma coisa que me interessasse e acabei colocando num canal onde estava começando um filme. Drama/Mex é o nome do filme. Acho que nem preiso falar muito mais sobre ele. Filme feito em 2006 pelo diretor Gerardo Naranjo.

Até agora eu não sei se eu achei o filme bom ou ruim, sei que não consegui parar de assistí-lo. Típico filme com putaria, pouca história, cenas confusas, pessoas suicídas. Mas me encantei com uma das atrizes. Diana Garcia é o nome dela. Linda. Pegaria fácil. Sim, é ela na capa do filme acima e não em uma de suas melhores fotos, mas pegaria mesmo assim.

Se vocês quiserem, dêem uma olhada nesse flickr e depois me digam se pegariam ou não.

Esse filme fica no marcador "Eu recomendo" mais por ela do que por qualquer outra coisa.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Olívia não brilha - Capítulo III

Parte III

Ainda não conhecia ninguém da vizinhança até aquele momento em que encontrou Otávio. Ele falou bastante durante aquelas duas quadras e quando chegaram ao portão de Olívia, ela o convidou: “Aceita uma xícara de chá?”. Não esperava que ele aceitasse, mesmo porque, ela se achou pouco receptiva durante o trajeto, mas não era por mal, sentia-se cansada demais para acompanhá-lo na conversa. “Aceito se eu puder fazer um café”. Olívia não estava acostumada com intromissões, mesmo porque, há muito tempo ela vinha construindo aquele muro imaginário que a separava das pessoas.

Ficou sem reação e sentiu enrubescer-se. E entraram. Nunca foi boa anfitriã, mas decorava a casa da forma mais acolhedora e aconchegante possível para não precisar se preocupar muito com isso. Otávio foi até a cozinha e começou a preparar o café. Olívia não é de falar muito, acredita no ditado que deus deu uma boca e dois ouvidos para que falássemos menos e ouvíssemos mais. No mais, Olívia não tinha muito a dizer e quando dizia, o fazia muito baixo e devagar, como se precisasse de um grande esforço para falar meia dúzia de palavras. Mas se encantava com quem falava bastante, assim não se sentia forçada a puxar assunto nem continuar uma conversa sem graça. Otávio continua falando. Fala que é dono de uma cafeteria, que ele faz o melhor café que já tomou, que ela deveria experimentar, que não imaginava o mundo sem café. Se pergunta como alguém pode não gostar de café. Olivia responde lentamente: “Não falei que não gosto, falei que prefiro chá. Não sei fazer um bom café”. Os olhos de Otávio brilham enquanto ele diz: “Então faço questão de que você experimente o meu café. Garanto que você não viverá mais sem ele”. Ela esboça um quase sorriso.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Olívia não brilha - Capítulo II

Parte II

Se apresentou: “Olá, sou Olívia. Obrigada pela cesta”. Olívia já o vira várias vezes pela janela do seu quarto. Vê sempre chegando com uma mulher muito bonita, mas que vai embora no meio da madrugada. Olívia não é de se importar com a vida dos outros, mas ela tem passado tempo demais na varanda e, como não é cega, testemunhou esses acontecimentos sem relevância.

Ele se ofereceu para ajudá-la a levar as compras e não esperou uma resposta. Já foi ajeitando as sacolas nas mãos e a acompanhou até em casa. Olívia costuma ser tão gentil que chega a ser incômodo. Ela mesma não sabia se essa gentileza toda era sincera e já tentara ser diferente, mas acabou deixando pra lá, como costuma fazer sempre. Acabou chegando a conclusão de que essa é ela, uma das poucas certezas que tem a respeito de si. Deixou que ele levasse as sacolas mesmo detestando que façam coisas assim por ela.

Ela mudou-se para esse bairro gostoso tem poucos meses, desde que recebeu um aumento em seu trabalho. Escreve uma coluna semanal sobre romance no jornal da cidade, mas não bota fé em nenhuma das histórias. Olívia acha que as pessoas se encantam com suas histórias porque são inatingíveis, improváveis que aconteçam. Mas o faz porque quer se dar ao luxo de ter sapatos. É amante de sapatos. E chás importados. E revistas de moda. Ao contrário do que todos pensam de alguém solitária, como Olívia, ela faz questão de estar sempre bem vestida, com unhas feitas, as madeixas mudam constantemente de cor e corte e os sapatos, “ah, os sapatos” diria ela suspirando. Sempre impecáveis. Ela costuma dizer que se arruma pra ela, que pouco importa se alguém a verá ou não, se alguém gostará ou não do que ela está vestindo. Deve ser mais ou menos por aí mesmo. Olívia vai ao teatro, ao cinema e, de vez em quando, sai com os amigos de longa data que moram em outra cidade, mas que a visitam sempre que podem. Mas não muito. Desde que mudou-se para aquele bairro, ela tem saído ainda menos. Vai ao mercado e à locadora que são muito próximos de sua casa.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Olívia não brilha - Capítulo I

Parte I

Olívia não sabe expressar o que sente. Ela se senta na cadeira de balanço de madeira e passa horas tomando chá e pensando na vida. Estava cansada de muitas coisas, mas estava mais cansada de guardar pra si o que sentia. Estava cansada de morar sozinha, de fazer o almoço em quantidade para uma pessoa, de ler o jornal tomando o chá sem açúcar. Faltava açúcar. Não só no chá, mas na vida.

Decidiu vestir-se e ir até o mercado comprar torradas, conhaque, cigarros e dignidade, mas esta última não achou nas prateleiras. Na fila do caixa, alguém lhe oferece um cesta para que ela pudesse acomodar suas compras. Antes que ela respondesse que não precisava, ele se apresentou estendendo-lhe a mão: “Sou Otávio, seu vizinho”.

Olívia sempre gostou desse nome, Otávio. Não sabia ela se era porque começava com a letra “o”, se era por ter três sílabas ou se era pelo simples fato de combinar com seu próprio nome. No mais, ela já tinha escolhido o nome Otávio para ser o nome de um dos seus filhos desde que era criança. Agora nem pensava nisso mais, já tinha até esquecido que era uma mulher fértil, na flor da idade. Olívia se sentia vazia por dentro. Por fora, o sobretudo bege por cima do vestido de cetim verde-musgo e sapatos de salto alto a fazia parecer estar em qualquer outro lugar, menos ali.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Férias

Enfim, acabou. Mais um semestre se foi e o próximo só começará a ser pensado em meados de julho. Até lá é descansar e aproveitar.

A agenda das férias já está praticamente feita. Piracicaba, Passos, Águas de São Pedro e depois a volta à capital paulista.

Talvez até as postagens desse blog voltem a ocorrer com alguma freqüência. Hoje, fica só o aviso de que estou livre da faculdade por mais de um mês. Vocês tem meu telefone ou meu e-mail, então, qualquer coisa, tô aí.

É nóis.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Texto Amigo

Pois é, depois de tanto tempo sem postar, eis que volto aqui para atualizar. Porém, não com um texto meu. Inaugura, hoje, o Texto Amigo e, como o nome já diz, será um texto bem interessante de algum amigo.

Pra dar aquela embalada na semana, principalmente para os que habitam a caótica cidade de São Paulo, segue, abaixo, um texto bem pertinente.


Welcome to the jungle.

De onde eu estou, consigo ver, tenho uma maior facilidade para discernir. Talvez, devido ao tempo em que me encontro preso aqui. Eu disse preso, não livre. Mas, apesar de cativo, sou mais livre do que muitos que aqui se encontram.


Sabedoria é a base de sua entrada, permanência é com certeza a chave da sua fuga. Eu sou um dos sábios que aqui circulam, pois posso sair a hora que bem desejar minha alma ou gritar meu corpo cansado.


Quando vier, venha preparado. “Nem tudo o que reluz é ouro e nem todo ouro reluz”, diz o ditado. Nem toda mulher é moça e, por mais desgraça que pareça, nem toda moça é mulher. Entre a opulência das grandes coisas caras que existem, a integridade é um luxo e a santidade é uma raça extinta. Se por acaso vier, que venha preparado. É sempre bem-vindo à selva, mas tome alguns cuidados que eu, por ser rei, os indico logo abaixo:


1 – Confie sempre no ser humano, mas desconfie de todas as pessoas.

2 – Acredite sempre no melhor, espere sempre o melhor porque o pior é coisa do cotidiano.

3 – Aprenda a ler um livro antes de folhear suas inúmeras páginas porque aqui seu tempo vale sua vida.

4 – Aprenda a apertar a mão das pessoas e olhar nos olhos pois relacionamento aqui é a verdadeira riqueza.

5 – “Bem-vindo à selva”, este é o slogan. Lembre-se que aqui, pra tudo, você é bem-vindo.

6 – Mas, lembre-se: “Nem tudo o que é bom faz bem e nem tudo que faz bem é bom”.

7 – Mais vale uma única mulher ao seu lado, do que muitas mulheres na solidão.

8 – Quando pisares nesta terra, tem somente duas opções. Repito, somente duas: Ser escravo do dinheiro ou escravizá-lo antes.

9 – Quando estiver frio, feche bem as portas. Quando estiver calor, feche MUITO bem.

10 – Quando estiver sozinho, não tenha medo pois o nome da multidão dos que habitam aqui é solidão.


Humildemente espero estar provendo os primeiros socorros com minhas rudes e sabias palavras porque, com certeza, aqui, você vai se machucar. Todos se machucam. Ferir-se ou não ferir-se não é a questão, mas curar-se é o ponto-chave. Quem se cura é livre, quem permanece ferido é escravo, simples assim.


Welcome to the jungle, pois ela vai te ferir, afinal, São Paulo é assim mesmo, machuca as pessoas. Acho bom você se curar pois aqui, você é sempre bem-vindo.


Texto por KING KONG


terça-feira, 3 de junho de 2008

Alucinações

E pode-se ver as cores das luzes na fumaça do ambiente. Vê-se as pessoas coloridas cada vez mais agitadas, contrastando com as paredes escuras.


Nunca soube se isso é pra mim, mas sempre sinto uma certa euforia em ouvir essas batidas mais altas do que meus ouvidos suportam, ritmando meu coração. Mas isso é segredo, não conto pra nenhum dos meus amigos. Mesmo porque eles nunca entenderiam, eles nunca vieram aqui.


Sempre fui desajeitada para dançar em público, mas aqui você faz a sua coreografia e está pouco se fodendo para o que as pessoas vão pensar. Aliás, aqui as pessoas não pensam. Não porque não são capazes, pelo contrário. Aqui as pessoas se libertam da rotina maldita e de todas as responsabilidades que enfrentam durante a semana. Acordam às 6 da manhã, vão para o trabalho, agüentam o meu-humor do chefe, almoçam em algum lugar nojento, saem às 6 da tarde, correm pra faculdade onde eles mal conseguem prestar atenção no que os professores dizem e só voltam pra casa depois das onze da noite. Aqui elas são e fazem o que querem.


E lá está ele de novo. No mesmo lugar que estava da última vez. Às vezes me pergunto o que ele tem que me deixa tão desconfortável. Até a pouco estava bebendo vodca com energético para ter energia suficiente para me acabar na pista. Agora estou sentada na cadeira do bar, bebendo água com gás, na falta de um café, para tentar voltar ao mundo real. Tudo isso porque eu sei que ele virá falar comigo e preciso pensar num jeito de mantê-lo interessado no que estou falando. Porque faço tanta questão? Boa pergunta.


O interessante é que pertencemos ao mesmo mundo. Nos conhecemos há séculos e quase nunca nos falamos. Eu quase posso dizer que somos a mesma pessoa. Somos tão parecidos que freqüentamos, escondidos dos nossos amigos, lugares como esse. Mas ele sempre me faz lembrar que gosto de Bad Religion, não importa onde estejamos. Somos tão parecidos que fico incomodada com o fato de me sentir desconfortável comigo mesma. Talvez seja esse o motivo de tamanho desconforto.



Texto do falecido mimmylove.blogspot, do dia 13 de janeiro de 2008.

Alucinações

Olha, eu sei que não está certo, mas vou apelar e postar alguns textos dos meus falecidos blogs.
Estou meio sem tempo e sem cabeça para criar novos textos, mas acho triste ver esse blog desatualizado.

O post de hoje é, na realidade, dos dias 18 e 20 de dezembro de 2007. Eu tinha dividido esse conto em duas partes, mas hoje coloco-o inteiro.


Fato é que eu não sabia exatamente onde eu estava. Não sei se por conta do que eu bebi ou do que eu fumei. Ela parece uma miragem. Sei que senti as mãos dela passando levemente em meu rosto e dizendo que estava tudo bem. Me abraçou de forma tão carinhosa que eu podia ficar ali, abraçando-a para sempre. Me sinto um pouco constrangido falando mas, por alguns segundos, senti que aquilo era o mais nobre de todos os sentimentos e era recíproco.


Fomos parar num lugar que não sei direito onde é, mas havia algumas pessoas conhecidas e um cheiro agradável pairava no ar. Sinto que já estive ali algumas vezes mas não sei se estava sóbrio. Aliás, não sei se hoje estou sóbrio.


Ninguém podia saber das minhas intenções, mesmo porque, ela já é comprometida, mas queria levá-la para um outro lugar onde eu pudesse contemplá-la sem ser punido.


"No fundo do recinto há um jardim" lembrei-me sem saber como, mas sabia o porquê. Convidei-a para ver os cogumelos que nasciam por lá e, não sei se por ingenuidade ou por segundas intenções, ela foi.

No jardim quase não ouvia-se a música e as conversas. Parecíamos estar num mundo paralelo. Ela, inclusive, mencionou ter visto um coelho branco atrás da árvore mas eu não conseguia tirar meus olhos dela.

Naquela escuridão, ela brilhava feito vaga-lume e suas expressões me lembravam as de uma princesa.


Agora ela me olha sorrindo e não sei o que fazer. Por alguns segundos me perco num sonho que há muito, vez ou outra, aparece em minha cabeça. Sinto um cheiro de cor-de-rosa que o vento parece trazer de longe e, de repente, ela me beija com toda a doçura que eu nunca pude imaginar existir. Ela tem o corpo todo macio e, como o cheiro, levemente cor de rosa. Vestida de púrpura, ela desliza sua mão e me empurra. Acordo.


Ela ainda está ali e me pergunta o motivo do meu sorriso. Antes que eu pudesse pensar numa boa resposta, ela me cala com seus lábios. Não sei se estou sonhando novamente mas, dessa vez, parece ser real. Sinto meu coração batendo mais forte enquanto minhas pernas ficam mais fracas. Pode parecer estranho um cara como eu dizendo essas coisas, mas me senti no paraíso. Quando ela se afasta, tento me aproximar. Ela se curva e começa a falar sobre cogumelos e suas diversidades. Cogumelos comestíveis, cogumelos tóxicos, cogumelos alucinógenos... Desse último ela falou com todo carinho. O quanto eles são importantes em rituais de diversos povos em todo o mundo. Ela parece tão certa de si que quase me esqueço que ela se afastou sem mais, nem menos.


Ouço algumas vozes se aproximando e são seus amigos. A luz do celular dela iluminava os cogumelos do jardim que, segundo ela, são os cogumelos alucinógenos mais conhecidos, chamados Psilocybe cubensis.

Ficamos um tempo conversando sobre isso até que ela disse que precisava ir embora. Eu não sabia o que fazer, não queria que ela me deixasse sem sequer explicar-se. E, enquanto eu pensava em alguma forma de pedir que ela ficasse, ela me pediu para que a levasse pra casa.


Antes de falar qualquer coisa, dei as chaves do carro para que ela pudesse ir dirigindo, afinal, eu mal sabia se estava nesse mundo. Nos despedimos de todos e fomos embora.


“Para onde vamos?” ela perguntou. De fato é uma boa pergunta quando precisamos ir para algum lugar, mas eu não sabia. Não sabia se ela queria ir para casa dela, ou para a minha, ou para outro lugar. Fiquei com medo de convidá-la para ir em minha casa e ela pensar que quero algo a mais. Apesar de querer, não é alguma coisa que precise acontecer necessariamente, não é uma prioridade. As coisas devem sair do jeito que ela quiser. Às vezes demoro tanto para responder suas perguntas e só percebo isso quando ela pergunta se estou bem. “Você está bem?”.


“Sim, estou. Vamos pra minha casa?”


Ela não responde como faz na maioria das vezes. Às vezes fico imaginando se ela fica pensando em coisas absurdas como eu. Mas nunca a interrompo, deve ser o momento divino dela com ela mesma e seria muita audácia, de minha parte, destruir um momento como esse. Queria que todas as noites fossem parecidas com essa. Só de pensar que tenho apenas essa noite para ficar ao lado dela, entro em pânico.


Quando me recupero dos meus devaneios, estou em frente à minha casa. A última vez que ela veio aqui, ficamos conversando coisas banais, relembrando os lugares que íamos mas não nos conhecíamos. Se eu pudesse prever o futuro, teria falado com ela daquela primeira vez que a vi, ainda uma menina, calçando um par de all stars e pulando enquanto a música rolava.


Abro os olhos e estou no meu quarto. Sinto aquele cheiro de cor-de-rosa e a procuro. Ela não está em nenhum dos cômodos da casa. Sinto-me perdido em relação ao tempo. Acredito, agora, que tudo não passou de mais um dos meus sonhos. Volto para o quarto e tento retomá-lo de onde parei, em vão. Ajeito meu travesseiro e, embaixo dele, uma carta.



Brindemos, hoje, às aventuras mais loucas, aos bares mais lúdicos e às conversas banais. Brindemos porque há motivos para comemorar, para celebrar o que os simples mortais chamam de 'sonho realizado'.


Façamos dessa nova etapa da vida mais que uma história a ser contada quando estivermos velhos, mas um momento para se orgulhar do que somos e fizemos.


Que suas noites de sono sejam as melhores noites de sono e os dias sejam tomados de um verde elétrico incandescente, banhado pela luz brilhante do sol. E, se isso não é divino, paixão, então não sei o que mais é.


Tenha uma boa vida.



De quem deseja-lhe as maiores virtudes e plena sabedoria.


Cor-de-rosa.”